De Poitiers a Belém: a minha aventura académica e profissional entre a França e o Brasil

Bernard Marimoutou

Graduação em Línguas Estrangeiras Aplicadas (LEA), ramo de Negócios e Comércio na Universidade de Poitiers e ex-estagiário na agência de inovação e incubação de startups da UFPA (SInD UFPA).

Email: MarimoutouB@gmail.com

O meu percurso antes da Universidade de Poitiers

Me chamo Bernard Marimoutou, tenho 29 anos e sou um ex-soldado da ativa do exército francês, bem como ex-estudante da Universidade de Poitiers na faculdade de letras e línguas. Tive uma carreira bastante atípica e pude partilhá-la com os meus colegas do curso de bacharelado de LEA (Línguas Estrangeiras Aplicadas) em Negócios e Comércio.

Antes de chegar a Poitiers em 2016, deixei minha terra natal, a Guiana Francesa, depois de um ano de estudo superior em administração de empresas. Dadas as circunstâncias que a França estava enfrentando em relação aos ataques terroristas em nosso território nacional, eu me alistei para o serviço ativo militar, embora já fosse reservista da Legião Estrangeira no 3 REI em Kourou. É claro que me alistei porque sempre tive a vocação de servir e descobrir o mundo, apesar de ainda estar enraizado em minhas origens guianenses. Adquiri uma vasta experiência em biodiversidade amazônica e sua preservação por meio de missões de apoio e de luta contra o garimpo ilegal de ouro na fronteira entre a França e o Brasil.

No entanto, depois de todos esses anos, tive uma experiência enriquecedora tanto profissional quanto acadêmica, com encontros e oportunidades que me permitiram aceitar desafios, apesar de voltar a estudar depois de mais de seis anos e meio servindo a França nas forças armadas. Também tive a sorte de conhecer países africanos, como a República da Costa do Marfim, Burkina Faso e Níger, em operações exteriores como piloto de veículo blindado leve em Pelotão de Reconhecimento e Intervenção em 2019.

Feedback sobre meu estágio na UFPA e minha colaboração com a Jucarepa

Ao final do meu contrato militar, decidi me matricular na Universidade de Poitiers porque queria ter minhas competências linguísticas reconhecidas, já que pretendia entrar no campo das relações internacionais. Então, validei meu perfil como especialista em língua portuguesa e profissional avançado em espanhol, de acordo com os padrões da OTAN, o que me deu uma equivalência universitária muito importante para ingressar na Universidade de Poitiers em formação contínua. Em seguida, entrei no segundo ano do curso de graduação em LEA em 2022, que se estenderá até 2024. Também agradeço a todos os meus professores e, em especial, à Dra. Karina Marques, professora de português e codiretora do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros da Universidade de Poitiers, que me deu muita motivação para fazer um estágio no Brasil.

Durante o meu 3° ano, tive a oportunidade de ir ao Brasil do dia 8 de abril a 8 de junho de 2024 para fazer um estágio internacional na Universidade Federal do Pará na Universitec, que é uma Agência de Inovação Tecnológica que apoia e ajuda startups a promover a proteção, aplicação e disseminação do conhecimento, bem como o empreendedorismo inovador em favor da competitividade e do desenvolvimento sustentável da Amazônia. Fui responsável por apresentar ao mundo a semente de cumaru, também conhecida como Fava Tonka, com a empresa “JUCAREPA”, incubada na Universitec para desenvolver seu comércio internacional. Também fui responsável pela publicação de artigos no site oficial da agência e pela manutenção das redes de comunicação social.

Isso me permitiu ter encontros de negócios e visitar empresas industriais do Estado com
empreendedores inovadores que trabalham com questões amazônicas, como a empreendedora
ZONI RIBEIRO Ana Lídia, criadora e produtora do hidromel “Uruçun”, feito com mel de abelha
sem ferrão em Belém, que está trabalhando com a UFPA para incubar sua empresa.

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Minha experiência como franco-brasileiro e como intermediário entre a UFPA e a Universidade de Poitiers

 

Minhas origens brasileiras vêm de minha mãe, natural do estado do Pará e, mais especificamente, da cidade de Castanhal, que chegou à Guiana Francesa na década de 1990 e, posteriormente, conheceu meu pai, francês originário da Guadalupe que já trabalhava no centro espacial do CNES (Centre nationales d’études spatiales) em Kourou desde a década de 1970. Me sinto muito grato por ter crescido nas terras amazônicas da França, com todas as suas riquezas biológicas, culturais e linguísticas que me permitiram aprender a falar vários idiomas, incluindo português, crioulo e espanhol, além de conviver com muitas outras línguas Bushinengue (Ndjuka, Boni, Saramaka) e línguas indígenas (Kali’na, Téko, Wayana, Palikur), que desde o nascimento nos forçaram a ter um estilo de vida praticamente bilíngue e até trilíngue.

Embora a influência brasileira seja muito forte na Guiana Francesa, eu mesmo só havia visitado o Brasil algumas vezes, apesar de morar bem ao lado. Durante o período em que estive lá, minha dupla nacionalidade me permitiu viajar livremente e fazer vários contatos por correspondência com colegas do Brasil, onde tive o imenso prazer de conhecer tanto em nível pessoal quanto profissional. Fazer esse estágio em Belém foi para mim uma excelente oportunidade de intercâmbio entre nossos dois países.

Os intercâmbios e o trabalho realizado durante meu estágio me permitiram desenvolver ótimas relações com o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará e com a direção da UFPA, que me pediram para me tornar seu correspondente para recomendar futuros estudantes estagiários para que eles pudessem descobrir as riquezas de Belém do Pará! Belém sediará a COP 30 este ano, o que levará a uma nova cooperação em muitos aspectos econômicos graças à sua alta biodiversidade amazônica nos próximos anos.

Atualmente, Justine Boissinot (cujo texto foi publicado no blog no dia 8 de maio de 2025), minha ex-colega de classe no curso de graduação LEA, está no 1° ano de mestrado “Trilingual International Business Negotiator” na Universidade de Poitiers, e está fazendo um estágio de dois meses na UFPA em uma agência de inovação e incubação de startups (SInD UFPA), graças à minha indicação e recomendação. Estou ajudando e orientando- a para que sua mobilidade ocorra nas melhores condições possíveis. Espero que outros alunos sigam os passos de Justine e compartilhem suas experiências, para que possamos construir relacionamentos mais próximos graças a essa colaboração.

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Minha relação com a língua portuguesa

Comecei a aprender português aos 8 anos de idade, pois na época eu só sabia francês. Eu me lembro de estar no Brasil por algumas semanas em 2003 e não conseguia falar português com meus primos, apesar de meus esforços. Então comecei a assistir canais de TV como TV GLOBO, SBT e Record em casa e aprendi da noite para o dia. Com o tempo e a influência brasileira na Guiana, me tornei um falante erudito. Tenho a impressão de que, quando falo com outras pessoas em português, sou outra pessoa com uma personalidade completamente diferente, mais voltada para o calor humano, agradável e aberta aos outros. Já em francês, tenho a tendência de ter diálogos que geralmente estão associados a um forte senso de racionalidade e uma certa reserva quando se trata de interação social. Acho muito interessante ver como os contextos socioculturais moldam nosso comportamento!

Centro Franco-Brasileiro da Biodiversidade Amazônica (CFBBA)

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