Ciência Amazônica e a COP30

Ima Célia Guimarães Vieira

Doutora em Ecologia, pesquisadora titular do Museu Paraense Emilio Goeldi, assessora da Presidência da Financiadora de Estudos e Projetos- FINEP. Membro da Academia Brasileira de Ciências.

E-mail: icvieira@finep.gov.br

A ciência tem desempenhado papel fundamental na compreensão e no enfrentamento das crises ambientais globais. Sem o trabalho contínuo e dedicado de cientistas, seria impossível medir o impacto das atividades humanas no clima, prever cenários futuros ou propor medidas eficazes de mitigação e adaptação. Na COP30, marcada para novembro de 2025 em Belém, esse protagonismo científico ganha uma dimensão ainda mais estratégica, tendo a região amazônica no centro das atenções globais. 

Pela primeira vez sediada na Amazônia, a conferência acontece em um contexto científico urgente, com as evidências mais recentes do IPCC confirmando que o mundo precisa atingir o pico das emissões de gases de efeito estufa até 2025 e reduzi-las pela metade até 2030. A ciência climática será protagonista nas negociações, fornecendo a base empírica para as novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) que todos os países devem apresentar e fornecerá os fundamentos técnicos no que se refere à meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C.

Mais do que um fórum internacional de negociações, essa COP pode marcar o início de um movimento na região, em que a ciência não apenas responde às crises, mas lidera a construção de uma agenda climática eficaz e sustentável. A ciência amazônica chega à COP30 com um legado considerável de conhecimento acumulado, mas também enfrentando desafios sem precedentes. As florestas amazônicas encontram-se sob pressões crescentes- desmatamento acelerado, queimadas de grande extensão, perda irreparável de biodiversidade e exploração predatória de recursos naturais- que comprometem não apenas sua integridade, mas também seu papel fundamental na regulação do clima global.

Ao apresentar evidências científicas robustas sobre a gravidade e a urgência dos impactos climáticos na maior floresta tropical do planeta, a comunidade científica possui a capacidade de catalisar compromissos internacionais mais ambiciosos que priorizem a proteção de áreas ecologicamente críticas e estratégicas. O desenvolvimento de um arcabouço conceitual integrado, que articule sistematicamente indicadores precisos de mudanças climáticas, identifique limiares ecológicos críticos e proponha soluções práticas contextualizadas às realidades territoriais específicas, pode constituir um roteiro orientador para as negociações climáticas, assegurando que as políticas e acordos adotados estejam efetivamente alinhados às necessidades complexas da região e à urgência da crise climática global.

Além disso, para ser um marco, a COP deve apostar na integração entre ciência acadêmica e o conhecimento tradicional dos povos amazônicos. Comunidades indígenas e ribeirinhas, que convivem com a floresta há séculos, detêm saberes valiosos sobre adaptação às mudanças ambientais e manejo e conservação da biodiversidade. Dar voz a esses grupos no contexto da COP enriquece o debate e a busca de soluções, criando uma ponte fundamental entre diferentes formas de conhecimento que podem fortalecer as estratégias de enfrentamento às mudanças climáticas.

A COP30 apresenta-se como uma oportunidade estratégica para catalisar um incremento substancial nos investimentos destinados à pesquisa científica na Amazônia. No cenário atual, a região recebe menos de 10% dos recursos nacionais alocados para ciência no Brasil e menos de 1% das colaborações científicas internacionais que chegam ao país. A conferência deve consolidar o papel da ciência amazônica no cenário global, destacando pesquisas sobre biodiversidade, serviços ecossistêmicos e bioeconomia. Neste sentido, a cooperação internacional muito se beneficiaria do intercâmbio de metodologias inovadoras, ferramentas e tecnologias avançadas, a serem usadas para investigar cientificamente vastas áreas insuficientemente compreendidas da Amazônia – aproximadamente 40% da região permanece desconhecida do ponto de vista ecológico.

Enfim, a COP30 tem o potencial de transformar a pesquisa amazônica, trazendo mais recursos, visibilidade global, parcerias estratégicas e uma ponte entre ciência, política e saberes locais. Se bem aproveitada, essa oportunidade histórica pode consolidar o papel da região não apenas como objeto de estudo, mas como protagonista na construção de uma agenda climática inclusiva, assegurando que as políticas e acordos adotados estejam efetivamente alinhados às necessidades da região e à urgência da crise climática global.

Centro Franco-Brasileiro da Biodiversidade Amazônica (CFBBA)

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