Localizada no coração da Bacia Amazônica, a Guiana Francesa distingue-se por sua posição geográfica estratégica e por sua dupla inserção: simultaneamente uma região ultraperiférica da União Europeia e uma parte essencial da Amazônia. Com uma biodiversidade excepcional e uma diversidade cultural singular, a Guiana apresenta-se como um locus estratégico para o desenvolvimento de pesquisas científicas e processos inovadores.
Frente aos desafios impostos pelas mudanças globais — como as alterações climáticas, a perda da biodiversidade, a transição energética, a segurança alimentar e a saúde pública —, a pesquisa na Guiana afirma-se como um vetor fundamental para a promoção do desenvolvimento sustentável. Esse esforço apoia-se em um ecossistema de atores estruturado, dinâmico e orientado tanto para as demandas locais quanto para as questões globais.
A Universidade da Guiana ocupa uma posição central no ecossistema científico regional, mantendo estreita colaboração com os principais organismos nacionais de pesquisa presentes no território: CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica, voltado para todas as áreas do conhecimento), IRD (Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento, especializado em pesquisas voltadas aos países tropicais e ao desenvolvimento sustentável), INRAE (Instituto Nacional de Pesquisa para Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente), CIRAD (Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento, com foco na agricultura sustentável em regiões tropicais e subtropicais), Institut Pasteur de Guyane (instituto de referência em pesquisa biomédica, especialmente em doenças infecciosas tropicais), IFREMER (Instituto Francês de Pesquisa para a Exploração do Mar, dedicado às ciências marinhas), BRGM (Bureau de Pesquisas Geológicas e Minerais, especializado em geociências), INRAP (Instituto Nacional de Pesquisas Arqueológicas Preventivas, responsável por estudos e salvaguarda do patrimônio arqueológico antes de obras de desenvolvimento) e o Muséum National d’Histoire Naturelle. Em conjunto, essas instituições desenvolvem uma pesquisa interdisciplinar de excelência, organizada em torno de quatro grandes eixos temáticos:
A articulação científica, sob a responsabilidade principal da Comissão de Pesquisa e Inovação na Amazônia (Commission Recherche Innovation en Amazonie – CORIA), coordenada pela Universidade, promove a integração dos diferentes atores da pesquisa, fomenta parcerias institucionais e maximiza a capilaridade e os efeitos das ações científicas no território. A esse conjunto de instituições e competências somam-se ainda o LABEX CEBA (Centro de Estudos da Biodiversidade Amazônica), o LABEX DRIHM (Dispositivo de pesquisa interdisciplinar sobre as interações entre seres humanos e meio ambiente) e a rede dos Observatórios Homem-Meio (Observatoires Hommes-Milieux – OHM).
A Guiana dispõe de equipamentos de pesquisa de ponta, adaptados às especificidades tropicais e amazônicas:
Essas infraestruturas conferem à Guiana francesa uma posição singular como plataforma de observação de longo prazo dos socioecossistemas, inserida em uma lógica de ciência aberta, cooperação internacional e apoio à formulação de políticas públicas.
A pesquisa desenvolvida na Guiana Francesa articula-se a um expressivo potencial de inovação, ancorado simultaneamente no setor espacial — representado pela presença do Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES) — e na valorização estratégica dos recursos naturais, visando à promoção de soluções alinhadas às necessidades específicas do território.
O Centro de Engenharia Bioinspirada da Guiana (Centre d’Ingénierie Bioinspirée de Guyane – CIBIG), coordenado pela Agência Guiana Desenvolvimento Inovação (GDI), impulsiona o surgimento de soluções inovadoras nos setores de eco-construção, química de base vegetal e alimentação sustentável, fundamentando-se nas plataformas tecnológicas dos laboratórios.
Essa dinâmica é ainda fortalecida pelas ações do Instituto Amazônico da Biodiversidade e da Inovação Sustentável (Institut Amazonien de la Biodiversité et de l’Innovation durable – AIBSI), que reúne forças acadêmicas, econômicas e sociais em torno de um objetivo comum: transformar a biodiversidade em um motor de inovação para responder, de forma local, aos desafios globais. Três prioridades estruturam sua atuação:
Em razão da notável riqueza de seus ecossistemas, da diversidade sociocultural e de seu expressivo potencial científico, a Guiana configura-se como um ambiente privilegiado para a experimentação e a implementação de modelos de desenvolvimento sustentáveis, equitativos e resilientes.
Ao articular excelência científica, inovação territorial e cooperação internacional — notadamente no âmbito do Centro Franco-Brasileiro da Biodiversidade Amazônica (CFBBA) —, a Guiana contribui de maneira ativa e estratégica para a produção de conhecimento e para a formulação de soluções voltadas ao enfrentamento das grandes transições ambientais, sanitárias e sociais que caracterizam a contemporaneidade.